Entende-se por Trauma Raquimedular (TRM) a lesão traumática da coluna vertebral com associação de lesão medular, podendo ser completa, ou incompleta, com ruptura total ou parcial da medula.
O enquadramento diagnóstico do TRM bem como seu nível sensorial e motor é definido através da funcionalidade do paciente no momento do exame neurológico com a aplicação de testes específicos.
A incidência mundial para o TRM é de aproximadamente quinze a quarenta casos por milhão de habitante. No Brasil, este número é maior do que a incidência mundial e estima-se o surgimento de mais de 11.000 casos novos por ano. Quanto à distribuição por sexo, cerca de 80% são homens. Quanto às causas, 41,7% ocorrem devido a acidentes de trânsito, 26,9% por armas de fogo, 14,8% por queda de altura e 9,3% por mergulho em água rasa.
A localização anatômica da lesão (nível medular) está diretamente relacionada ao mecanismo de trauma, e a região cervical é o segmento mais afetado. Os mecanismos de lesão são diversos e podem acometer a medula a partir de compressões, esmagamentos, movimentos de torção, distensão, ruptura, entre outros.
Exemplo de TRM a nível cervical. Na imagem, pode-se observar um trauma com fratura e deslocamento da vértebra e compressão da medula
Alguns dados sobre o nível medular e a extensão da lesão mostram que os padrões de comprometimento mais frequentes são tetraplegia incompleta (38,3%), seguida por paraplegia completa (22,9%), paraplegia incompleta (21,5%) e tetraplegia completa (16,9%).
Após o evento lesivo é de extrema importância o manejo precoce por equipe interdisciplinar de saúde e os profissionais mais comumente envolvidos neste processo são enfermeiros, fisioterapeutas, médicos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. A avaliação minuciosa é aspecto relevante e tem direta influência no resultado do tratamento.
Dor neuropática, alterações músculo-esqueléticas, Ossificação Heterotópica (OH), Osteoporose, Alterações vasculares, Trombose Venosa Profunda (TVP), Hipotensão postural, Disreflexia autonômica, Bexiga neurogênica, Intestino neurogênico, Úlceras por pressão, Espasticidade, automatismos, Distrofia Simpático Reflexa e disfunções sexuais são as alterações que mais encontradas em quem sofre o TRM.
A recuperação funcional, obrigatoriamente tem como meta viabilizar autonomia, independência e qualidade de vida ao paciente, por meio de atividades voltadas para o desenvolvimento físico, educativo e psicossocial. A orientação para familiares e cuidadores também faz parte do processo de reabilitação, tendo em vista que, o maior tempo de estimulação será em ambiente domiciliar.
O profissional Fisioterapeuta deve basear sua abordagem nas alterações da função de cada paciente, observando o nível medular e o tipo de lesão de casa pessoa, ou seja, alguém com lesão medular completa ao nível cervical baixo (C6) não terá as mesmas possibilidades e metas de reabilitação que alguém com lesão incompleta com nível medular torácico (T11).
Podemos concluir que o nível medular e o tipo de lesão determinarão as possibilidades de recuperação. A escolha por um profissional com formação especializada terá grande influência na aquisição de bons resultados, pois este será capaz de buscar alternativas voltadas a cada pessoa, utilizando-se das diversas abordagens possíveis.
Sugestão de leitura:
DIRETRIZES DE ATENÇÃO À PESSOA COM LESÃO MEDULAR – MINISTÉRIO DA SAÚDE,
2015.
PROJETO BHTRM: NOVA ESTRATÉGIA DE MONITORAMENTO E ATUAÇÃO NO TRAUMA RAQUIMEDULAR DA CIDADE DE BELO HORIZONTE. GONÇALVES, D E COL. COLUNA/COLUMNA. 2014;13(4):322-4.
ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NA REABILITAÇÃO DO TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR. PEREIRA, M. ARQ NEUROPSIQUIATR 2005;63(2-B):502-507.
CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA E DAS SITUAÇÕES DE FRATURA DA COLUNA VERTEBRAL NO MUNICÍPIO DE RIBEIRÃO PRETO, PROPOSTAS PARA UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO DO TRAUMA RAQUIMEDULAR. Vasconcelos, E. Coluna/Columna. 2011; 10(1):40-3.